quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Trilho da Calcedónia

TRILHOS PEDESTRES
"Na Senda de Miguel Torga."


“Trilho da Calcedónia.”

(12/08/2009)

(Inserido nas comemorações, Nascimento de Miguel Torga)


O Município de Terras de Bouro organizou, no passado dia 12/08/2009, mais uma das actividades comemorativas em homenagem a Miguel Torga, pelos 102 anos do seu nascimento (a 12 de Agosto de 1907).

"Miguel Torga calcorreou a Serra do Gerês durante mais de 50 anos. "Foi um entusiasta do Gerês, das suas paisagens e das suas gentes." "Ele está umbilicalmente ligado a Terras de Bouro e ao Gerês, em particular", afirmou ainda Manuel Pereira. Daí sustentar que "estas actividades são uma justa homenagem ao homem defensor destas terras. Convivia com o povo e era mais um entre eles".
(Palavras de Manuel Pereira Dr., (chefe de Gabinete da Presidência do Município de Terras de Bouro), no decurso da Conferência de Imprensa de apresentação do programa de actividades que assinalaram o centenário do nascimento do médico e escritor, em 2007.)

Uma Caminhada debaixo de um magnifico dia de Céu azul, pelo "Trilho da Calcedónia".
(Percurso também referido na obra
"Trilhos Pedestres na Senda de Miguel Torga, Terras de Bouro - Serra do Gerês).
(Publicação da Câmara Municipal de Terras de Bouro).


(Inicio do Percurso)

("Punhal" em "Silhueta da Serra" )
"Rochedo Triangular"

"Silhueta da Serra"
(Pintura a Mista
/ 2006 - Luzia Ferreira Teixeira)

(Observamos este quadro, sabendo procurar o enquadramento e esperar pela hora do Por do Sol.)
A Luz, é o factor magico da contemplação.

(Declamações, Poesia de Miguel Torga.)

Estava planeado, durante o percurso, fazer breves paragens e, declamar poemas de Miguel Torga, em sua homenagem. Mas depois de serem declamados os primeiros poemas…
Tal como Miguel Torga, o deslumbramento pelos encantos da paisagem foi brutal, superou a qualquer tentativa de amainar o vigor do grupo, deixaram-se dominar pela Natureza, beberam-lhe as palavras... embrenharam-se na Serra.
Um delírio provocado pelo atractivo do “Gerês, Paraíso Minhoto”!

Deliciei-me com esta Revelação da Natureza.

(Parte do Grupo!)
Também fui levada a participar numa autêntica aventura... Antes, não tinha bem noção do trajecto a que me produz! Mas realizei um “Sonho”… Quando à distância, observava o cume desta vertente da Serra, achava-o intransponível, o qual eu representei em pintura, com o tema “Imponência da Montanha”.

"Imponência da Montanha"
(Pintura a Óleo
/ 2006 - Luzia Ferreira Teixeira)


Maciço impossível de o transpor!? Já não.

"Vultos e Guardiões da Serra"!

"Um GNR plantado"
"Pontífice adormecido"

"Pontífice"
(Escultura em Granito / 2006 - Luzia Ferreira Teixeira)


(Estátua do "Búrio - Fraga de Guarda")

"Fraga de Guarda"
Escultura em Granito / 2006 - Luzia Ferreira Teixeira)


"O Bom Pastor, guarda as suas ovelhas"

"Túnel"
(Interior da Fenda do Maciço Granítico)
"Gruta de Camões em Macau"
Escultura em Granito / 2006 - Luzia Ferreira Teixeira)

Entrada da Fenda.
Hoje sinto-me absorvida no centro de uma tenebrosa fenda, como Camões, na gruta em Macau, onde escreveu grande parte dos Lusíadas, no seio deste maciço granítico, imponente e dominador... "Cabeço da Calcedónia".
Depois de “alcançar o Céu” ...

Altitude imponente! Alcance do"Céu"

(Só a "Cabra do Gerês" é capaz de galgar tais rochedos!?)


E agora!?
Descemos de Rapel ou a Corta mato!?


"Lagedos"
(Escultura em Xisto / 2006 - Luzia Ferreira Teixeira)


O percurso de descida, foi feito pelo exterior da "fenda" a “corta mato” no seu verdadeiro sentido da palavra, através uma densa vegetação, e estreitas rochas, por excelência beijada pelo Rio Caldo.
Belas imagens!!!
"Calcedónia"
Escultura, Quartzo e Granito / 2006 -Luzia Ferreira Teixeira)

"Corta Mato..."
É mais seguro para "inexperientes".Muito mais fácil!Quando um homem consegue...
o obstáculo não é esforço sobre-humano.
Congratulações para um Homem Búriense genuíno, (António Ferreira Afonso, Dr. Presidente do Município de Terras de Bouro), de cajado em punho, pose de Pastor atento, "Fraga de Guarda", sereno, inspira toda a confiança... Bem haja.

Como recompensa, a meio da escarpada deliciamos-nos a enganar a fraqueza com amoras silvestres e a saciar a sede numa acolhedora e ansiada gruta, com água pura e fresca!

Uma magnífica experiência!


Terra firme, Finalmente.

Para tudo, há sempre uma Recompensa.

"O meu Eremitário Perfeito"

Muralha da Cidade da Calcedónia.

Só falta mais um pouco de caminho para terminar o percurso...

Até ao cruzamento na aldeia!


Nada acontece por acaso!
Participo nestas caminhadas não só para descobrir novos recantos já explorados por geólogos e historiadores, mas também, para estar em contacto com a Natureza, conviver com pessoas que percorrem grandes distâncias, que por ela se apaixonam e como facilmente exteriorizam os seus sentimentos!

Para uma observação no seu todo, sentir a liberdade de expressão, e, comunicar através das cores, das formas e das palavras...
"Colorindo o Mundo"

Assim compreendo melhor a essência da Natureza, da Serra... do seu Povo... e tudo faz mais sentido.

Concordo; "Quando Deus Sonha, o Homem Realiza".


(A última Águia do Gerês - Pintura)
O Sabor da Liberdade...

Cidade da Calcedónia, é um Trilho pedestre denominado pequena rota (PR), (com uma distância real a percorrer de 9,3 Km - o tempo médio é de aproximadamente 5 horas - constituído por traçados declivosos, que o tornam de elevada dificuldade).

Este Trilho desenvolve-se no território de Covide e de Campo do Gerês, o qual apresentam um enredo histórico-cultural marcante, pelas suas tradições comunitárias e antiguidades arqueológicas.

Este traçado circular, pretende atingir o mítico sítio arqueológico denominado “Fraga da Cidade”, que os eruditos seiscentistas imortalizaram com o clássico topónimo de Calcedónia.

Ao longo do trilho evidenciam-se aspectos geológicos e geomorfológicos específicos: a rocha dominante é o granito de duas micas, com predominância de biotite de grão grosseiro. De entre os granitos ocorrem filões quartzosos de rochas básicas.

Observa-se uma paisagem típica das regiões graníticas que devido à acção dos agentes atmosféricos, em conjugação com a rede de fracturas, origina curiosas formas que a imaginação popular associa a animais, penhas, bolas, caos de blocos, pias e blocos pedunculados.

Observam-se anfíbios, répteis e aves nos seus habitats naturais. Nos charcos existem o tritão-marmoreado, tritão-de-ventre-laranja, rã-ibérica, rã-verde, sapo-parteiro, sapo-comum e a salamandra-de-pintas-amarelas.

Os répteis encontram-se nas zonas de grande exposição de raios solares e nos recônditos abrigos proporcionados pelas pedras.

Avistam-se espécies importantes de aves, associadas aos matos, a zonas rochosas e a zonas abertas, como o falcão peregrino, e o peneireiro-comum, cartaxo, a cia, a cotovia, o cuco, o melro-das-rochas, melro-azul e a águia-de-asa-redonda.

Os hábitos mais esquivos dos mamíferos torna difícil a sua observação, porém, as pegadas, dejectos, marcações de território e vestígios de alimentação são indícios da presença do lobo, da gineta, fuinha, cabra, cavalo, corço e esquilo.

Neste Trilho predominam dois tipos de flora: eurosiberiana, com as espécies dos habitats húmidos/frescos e a flora ibero-atlântica predominante nas zonas secas.

A coexistência desta variedade traduz uma paisagem rica que a torna singular.

O traçado inicial do Trilho está ladeado de espécies florísticas de valor dendrológico, nomeadamente o Carvalho -Quercus robur, Castanheiro - Castanea sativa e Pinheiro - Pinus pinaster.

À medida que se avança em altitude, a vegetação arbórea exprime exemplares isolados de Pinheiros e Carvalhos. Nas chãs, o pilriteiro - Crataegus monogyna destaca-se na paisagem pela sua agressividade.

Na proximidade da “Cidade da Calcedónia” o estrato arbustivo marca a paisagem com a urze Erica cinerea, Tojo arnal - Ulex europaeus, Tojo molar - Ulex minor, Torga - Calluna vulgaris, Carqueja - Chamaespartium tridentatum, Giesta - Cytisus striatus, Violeta - Viola spp, Fetos - Pteridium aquilinum, Musgos - Polytricum spp., Dedaleira - Digitalis purpurea e Abrótega - Asphodelus s.p.

TRILHOS PEDESTRES, na Senda de Miguel Torga. (Câmara Municipal de Terras de Bouro)

(www.cm-terrasdebouro.pt/trilhos/trilhos.htm)


Miguel Torga

(O Homem e a Obra)

Adolfo Correia da Rocha, nascido em S. Martinho de Anta, Concelho de Sabrosa (Vila Real), a 12 de Agosto de 1907 e faleceu em Coimbra, a 17 de Janeiro de 1995.

Publicou, inicialmente, as suas obras com o nome de baptismo, mas cedo adopta o pseudónimo de MIGUEL TORGA porque, “Eu sou quem sou. Torga é uma planta transmontana, urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas, Miguel Torga é um nome ibérico, característico da nossa península.”

Também por influência de dois grandes escritores espanhóis: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno.


Miguel Torga - Escritor Português. Que provém de uma família humilde, teve uma infância rústica, que lhe deu a conhecer a realidade da vida no campo, composta de trabalho árduo.

Aos dez anos, vai para uma casa no Porto, servir como porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó... Passado um ano foi despedido, por constante desobediência.

Depois de ter concluído a 4ª classe, frequentou o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos decisivos da sua vida, tendo melhorado os conhecimentos de português, geografia, história, aprendido o latim e ganho familiaridade com os textos Sagrados.

Aí permanece um ano. Para grande satisfação da mãe, durante as férias, auxiliava na realização da Eucaristia, mas a sua decisão foi outra. No fim das férias comunicou ao pai que não queria ser padre.

Altura em que emigrou para o Brasil. Trabalhou durante cinco anos na fazenda de um tio, em Minas Gerais, na cultura do café, vaqueiro…e outros os afazeres.

O tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado. Convicto de que ele havia de vir a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos e regressou a Portugal. Concluiu o curso de Medicina em Coimbra, aos 24 anos, especializando-se em Otorrinolaringologia.


Começa por exercer clínica geral na sua aldeia mas a experiência foi negativa. Exerceu a profissão de médico em várias localidades do país, fixando-se definitivamente em Coimbra, em 1941.

Era bastante crítico das tradições académicas, e acha deprimente a capa e batina, mas honra a cidade de Coimbra onde escreve a maioria dos seus livros.

Publica o seu primeiro livro, (Ansiedade), em poesia com 21 anos.

Esteve ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, rompe definitivamente com a revista Presença, por "razões de discordância estética e liberdade humana", fundando nesse mesmo ano, a revista Sinal, com Branquinho da Fonseca, da qual saiu apenas um número. Em 1936, lançou outra revista, a Manifesto, que também uma breve duração.

Tendo Miguel Torga, adquirindo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida campestre, tornou-se um poeta do mundo rural.

A sua obra, é repleta de simbologia submergida num sentido Divino, transfigura a Natureza e Dignifica o homem.

“Sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano.” Razões que levam Miguel Torga a revoltar-se contra da Excelsa Divindade e voltar-se a favor da inerência humana, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração;” Nenhum deus é digno de louvo, na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a Natureza. Mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de transformar a Natureza, como os trabalhadores rurais trasmontanos que impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras…”


Miguel Torga era conhecido popularmente nos meios intelectuais como um avarento de trato difícil e de mau carácter, sempre afastado dos meios das elites presunçosas. Mas dava consultas médicas gratuitas a pessoas pobres e é referido por esse povo como um homem de bom coração e muito sociável.


A sua ligação à Terra Natal, a Portugal, à Península Ibérica e ao seu povo, é outra constante dos temas do escritor. Que demonstra o profundo conhecimento de Miguel Torga, pela rude pobreza dos seus meios naturais, puras características humanas definidas na sua personalidade.


Minha terra,

Meu povo,

Que sempre vos amei,

Que sempre vos cantei,

E que nunca jurei

O vosso nome em vão.

Minha terra,

Meu povo,

Dizei-me nesta hora de agonia

Que essa fidelidade

Desafia

Quem à sombra da noite e à luz do dia

Negue no mundo a vossa eternidade.

De: [Diário XII, p. 180.]


“ Eu amo a medicina. Amo o que há de absoluto em cada Vida. A doença é um estado absoluto. Perto da morte. A cada vez um desafio de arrancar o doente do sofrimento, da morte. É a mesma coisa com a literatura. Luto com as palavras como luto com a morte.”

De: [Entrevista ao Jornal Libération em 11/2/1988]


O Homem e a sua Obra Literária.

É considerado uma das figuras mais marcantes da literatura portuguesa do século XX.

Distinto contista, romancista e dramaturgo é autor de mais de 50 Obras.

(Obras publicadas desde 1928, com 21 anos).

Casou com uma senhora belga, André Cabrée, professora universitária de Coimbra: “…vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso.” Revela, em “A Criação do Mundo”.


“O material que mandava para a tipografia levava vários remendos colados e uns sobre os outros. Por causa de uma vírgula era capaz de passar uma noite sem dormir...”


Obras editadas:

Poesia: 1928 - Ansiedade, 1930 – Rampa, 1931 – Tributo, 1932 - Abismo., 1936 - O Outro Livro de Job, 1943 – Lamentação, 1944 – Libertação, 1946 – Odes, 1948 - Nihil Sibi, 1950 - Cântico do Homem, 1952 - Alguns Poemas Ibéricos, 1954 - Penas do Purgatório, 1958 - Orfeu Rebelde, 1962 - Câmara Ardente, 1965 - Poemas Ibéricos.

Prosa: 1931 - Pão Ázimo, 1931 - Criação do Mundo, 1934 - A Terceira Voz, 1937 - Os Dois Primeiros Dias, 1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1940 – Bichos, 1941 - Contos da Montanha."Diário I", 1942 – Rua, 1943 - O Senhor Ventura. "Diário II", 1944 - Novos Contos da Montanha, 1945 – Vindima, 1946 - "Diário III", 1949 - "Diário IV", 1951 - Pedras Lavradas. "Diário V", 1953 - "Diário VI", 1956 - "Diário VII", 1959 - "Diário VIII", 1964 - "Diário IX", 1968 - "Diário X", 1973 - "Diário XI", 1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo, 1976 - Fogo Preso, 1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo, 1982 - Fábula de Fábulas.

Peças de teatro: 1941 - "Terra Firme" e "Mar", 1947 – Sinfonia, 1949 - O Paraíso, 1950 – Portugal, 1955 - Traço de União.


Foi premiado, Nacional e Internacionalmente; de entre os quais se destacam o Prémio Literário Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia das Bienais de Knokke-Heist (1976), que recebe em Bruxelas no ano seguinte, o Prémio Morgado de Mateus (1980), o Prémio Montagne (1981), o Prémio Camões (1990), o Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio Écureuil de Literatura (1982, em Bordéus) e, finalmente, o Prémio Crítica 1993 do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários.

E foi proposto, por três vezes, (1960, 1978 e 1994) para atribuição do Nobel da Literatura.

Algumas das obras de Miguel Torga, foram traduzidas em diversas línguas: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro…


Chega a ser preso pela PIDE, tendo algumas vezes vontade de sair do país: “Mas abandonar a Pátria com um saco às costas? Para poder partir teria de meter no bornal o Marão, o Douro, o Mondego, a luz de Coimbra, a biblioteca e as vogais da língua. Sou um prisioneiro irremediável numa penitenciária de valores tão entranhados na minha fisiologia que, longe deles, seria um cadáver a respirar. “


Ao lado do seu jazigo em São Martinho de Anta, foi plantada uma Torga, em honra ao Poeta.